BRASÍLIA – O advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, abriu, na manhã desta quarta-feira (3), a defesa do ex-presidente, no segundo dia do julgamento da suposta trama golpista pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. Vilardi, segundo advogado a se pronunciar na sessão de hoje, negou que Bolsonaro tenha atentado contra o Estado Democrático de Direito e afirmou não haver provas que liguem o ex-presidente aos planos da suposta trama golpista, nem por parte do delator, tenente coronel Mauro Cid. Nas palavras do advogado, Bolsonaro foi "dragado" para ações que foram investigadas pela Polícia Federal.

Vilardi também procurou desqualificar as informações de Mauro Cid na condição de relator. Para Vilardi, o ex-ajudante de ordens não é "confiável" .O advogado lembrou que Cid mudou de versão diversas vezes em seus interrogatórios. Para o defensor, as contradições do tenente-coronel são motivos para anulação da colaboração premiada.

O segundo advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, negou que tenha havido ato violento e de ameaça por parte do ex-presidente. Bueno chamou a atenção para o fato de que o crime de golpe de Estado é caracterizado pelo emprego de "violência e grave ameaça". "Se excluído, nós teríamos um tipo penal extremamente aberto e com perigosa abertura, notadamente em delitos políticos", disse o defensor.

O advogado acrescentou que "é indiscutível que o presidente, em momento algum, deu início aos protocolos para convocação de medidas excepcionais [de estado de sítio]" Paulo Bueno concluiu a defesa dizendo que uma pena de 30 anos para Bolsonaro não é "razoável". Ele encerrou o pronunciamento pedindo a absolvição de Bolsonaro.

Na sessão desta quarta-feira (3), a defesa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, foi a primeira a se pronunciar, por meio do advogado Matheus Milanez. O defensor iniciou a fala reclamando da dificuldade para acessar os arquivos liberados pela Polícia Federal devido ao grande volume de dados. Milanez mostrou em uma apresentação de slides que as provas foram disponibilizadas em meio a "uma montanha de documentos, excesso de documentos com nomes que não se entende".

Outro ponto questionado pelo advogado foi a conduta do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso na 1ª Turma do STF. Milanez apresentou um levantamento em que comparou a quantidade de perguntas feitas por Moraes aos réus e pelo Ministério Público (MP), alegando um número maior de questionamentos por parte do ministro, a quem se referiu em determinado trecho de sua fala como "juiz inquisidor". Segundo Milanez, enquanto o Ministério Público fez 59 perguntas, Moraes fez 302.

Sobre o papel de consultor do general Augusto Heleno apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o advogado disse que o militar era contra a política tradicional, e reiterou que Heleno se afastou de Bolsonaro diante da aproximação do ex-presidente com o Centrão. Milanez também disse que nunca foi a intenção do general Heleno fazer infiltração de agentes da Agência Brasileira de Inteligência em equipes de campanha eleitoral. A PGR afirma que na reunião ministerial de julho de 2022, o então ministro-chefe do GSI deixou claro que era ventilada uma infiltração de agentes.— As práticas e rotinas que você precisa preparar para a infiltração de agentes não se fazem em três meses — afirmou Milanez.

Ao abordar o conteúdo da agenda pessoal de Heleno, uma das principais provas usadas pela PGR em sua denúncia contra o general, Milanez disse que o documento era "somente suporte da memória do próprio general". “Na mesma página nós temos assuntos discordantes, e os senhores querem me falar que assuntos que estão com 100 páginas de distância um do outro têm vínculo? — questionou o advogado. Milanez argumentou que a apresentação das páginas pela Polícia Federal não seguiu a ordem real do documento e que isso "induziu a erro".

O defensor comentou, ainda, falas de Heleno em uma reunião ministerial ocorrida em julho de 2022, apontada pela PGR como uma das provas das articulações golpistas. Na ocasião, o general afirmou: "Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições". Milanez pontuou que o que o general quis dizer é que "após as eleições, não tem discussão".— Quem ganhou maioria dos votos leva. Segundo o advogado, essa fala do general Heleno vem no sentido de que algo tem que ser feito, "o que podemos fazer, o que pode ser discutido, tratado, porque depois que passar as eleições, não tem como". O advogado encerrou a defesa do general Augusto Heleno cobrando a absolvição do ex-ministro.

A terceira defesa ouvida nesta quarta-feira (3) foi a do ex-comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira. O advogado Andrew Farias afirmou que o militar tentou demover Jair Bolsonaro de qualquer medida de exceção e negou a omissão do general contra o golpe. O defensor sustentou que, na verdade, Paulo Sérgio Nogueira tentou demover os militares de aderirem a uma insurreição. O advogado também afirmou que foi "infeliz" a fala do general sobre a fiscalização das urnas eletrônicas ser para "inglês ver". Na parte final da defesa, Andrew Farias afirmou que o general Paulo Sérgio Nogueira honrou a memória de Duque de Caxias e das Forças Armadas.

O segundo dia de julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal terminou com a defesa do general Walter Braga Netto, na palavra do advogado José Luis Oliveira Lima, que abriu seu pronunciamento afirmando que o ex-ministro da Casa Civil e ex- candidato a vice-presidente em 2022 é inocente da acusação de participar da trama.

Lima também afirmou que houve cerceamento de acesso aos autos, com pouco tempo para analisar a documentação da investigação. O advogado argumentou, também, que na investigação, as provas contra Braga Netto são a delação de Cid, classificada como "mentirosa". O defensor ressaltou que as acusações contra o militar se resumem a oito prints de tela, do material sobre as investigações.

Após a manifestação da defesa de Braga Netto, a quarta e última do dia, o ministro Cristiano Zanin suspendeu o julgamento e encerrou a sessão. O julgamento está marcado para voltar na próxima terça-feira (9), a partir das 9h.

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